quinta-feira, 12 de maio de 2016

A ladeira escorregadia dos fundamentalismos

Um debate em que a confusão dos argumentos revela uma aliança espúria entre um BE e um "PAN". Coincidindo num ponto aparentemente "fácil", o BE não vê que o gentil animalismo vai devorá-lo...
1) A questão dos "dinheiros públicos" aparece como um argumento, enquanto não diz absolutamente nada. Primeiro, porque não há subsídios específicos para a criação de gado bravo (O Pânico o reconhece); segundo, porque não é legítimo privar de dinheiros públicos actividades reconhecidas e defendidas por muitos cidadãos que pagam os impostos...
2) Ver o representante do BE a defender a substituição de actividades agro-pecuárias pelo TURISMO é completamente incompreensível. O turismo não só não pode compensar a destruição das actividades agro-pecuárias, como instaura um tipo de ocupação do território que é altamente prejudicial. A criação de gado rústico (sem estabulação, ao ar livre todo o ano), mantém uma pressão sobre a vegetação que nenhum turismo pode garantir. Quando o mato tiver fechado o meio, os turistas deixam de poder viajar. O turismo é essencialmente anti-ecológico, cria dependência de mercados longínquos e é difícil compatibilizá-lo com a salvaguarda do meio.
3) Penso sinceramente que o BE está a jogar uma cartada em relação aos animalistas que lembra a maneira como a direita em certos países tem vindo a adoptar as teses e a linguagem da extrema-direita. Ao tentar tirar o tapete à extrema-direita, a direita dissolve-se nela. A lógica dos radicalismos é essa: quando se concorre nesse terreno o mais radical ganha sempre. 

4) A ideologia animalista que o PAN adopta em Portugal é essencialmente religiosa: depois das touradas, é o conjunto das relações de trabalho ou domésticas com os animais que é posto em causa. Essa religião não pode fazer compromissos. É um radicalismo à procura duma pureza sempre maior: raízes dos fundamentalismos.
Aqui, o BE vai infelizmente ser ultrapassado pelo seu "aliado" espúrio e quando o fundamentalismo animalista o engolir, não saberá donde vem o golpe...

A questão dos apoios públicos às touradas este em debate na edição de sábado. O PAN diz que as actividades tauromáquicas vivem dos dinheiros do Estado e o Bloco…
rr.sapo.pt|By Renascença

6 comentários:

  1. O texto é uma pérola em termos de análise política: se não despertarmos para as realidades aqui expressas, bem poderemos fazer a despedida à nossa querida Festa de Toiros.

    ResponderEliminar
  2. A Unesco produz por vezes pérolas insubstituíveis: "Desnaturaliza a relação entre o homem e o animal, afronta a moral, a educação, a ciência e a cultura" (UNESCO, 1980): "desnaturaliza"? Mas a relação do Homem com os animais domésticos, entre eles o touro, é "natural"? Ou é precisamente CULTURAL? O homem não tem relações "naturais" com nenhum animal, e ainda menos com os animais domésticos. Quanto à "moral", ela está acautelada pelas regras. Comparar as corridas de touros a "tortura" é absolutamente ilegítimo...

    ResponderEliminar
  3. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderEliminar
  4. Está enganado, para o touro a tourada é uma tortura. As regras tauromáquicas podem muito bem considerar-se imorais visto que dão vantagem ao toureiro e o touro estar a ser sacrificado e torturado, apenas para andarem a brincar aos combates. Desnaturaliza por o animal ser tratado como se fosse um objecto, um ser não senciente. Julgo que seja esse o significado que a UNESCO quis dar ao texto. Posso ser-lhe útil em mais alguma coisa que não tenha percebido?

    ResponderEliminar
  5. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

    ResponderEliminar
  6. As touradas provocam muito sofrimento a dois pacíficos herbívoros. Não seja cúmplice dessa tortura desnecessária. Não seja responsável pela tortura. Não participe nem assista a touradas.
    “A Tauromaquia é a terrível e venal arte de torturar e matar animais em público, segundo determinadas regras. Traumatiza as crianças e adultos sensíveis. A tourada agrava o estado dos neuróticos atraídos por estes espectáculos. Desnaturaliza a relação entre o homem e o animal, afronta a moral, a educação, a ciência e a cultura" (UNESCO, 1980)

    ResponderEliminar